sexta-feira, 11 de março de 2011

Um conto sobrenatural

Na época Pedro ainda era um menino de 14 anos... Tinha uma vida bastante humilde, simples, a mãe fazia doces caseiros pra vender, o pai era coveiro em um cemitério, e suas duas irmãs mais velhas já haviam se casado...O cemitério onde o pai de Pedro trabalhava ficava perto da casa onde moravam, então todos os dias a mãe de Pedro preparava o almoço e arrumava a comida em uma vasilha, amarrava com um pano de prato e já apressada dizia: 
“- Menino, vai ligeiro levar a comida enquanto ainda está quente, sabe que seu pai não suporta comida morna...então nada de parar pelo caminho pra prosear com seus amigos”.
E todos os dias pontualmente às 12 horas Pedro chegava naquele cemitério.
Pedro tinha um pouco de medo, porque havia dias que ele tinha que andar bastante entre as sepulturas até encontrar o seu pai... e nos dias de semana o cemitério era mais vazio, sem movimento...Teve um dia que Pedro não estava conseguindo encontra-lo....e uma leve chuva começou a cair...
Pedro ficou apavorado porque já estava pronto pra ir para o colégio, com seus cadernos e livros nas mãos, e aquela chuva ia acabar molhando o seu material escolar... foi quando ele passou em frente à capela do cemitério e ouvi uma voz que vinha lá de dentro:
“– Hey menino, entre aqui, senão vai se molhar todo”.
Quando olhou pra dentro daquela pequena capela, Pedro viu uma garota que devia ter mais ou menos a mesma idade que ele... essa menina também estava com uns livros nas mãos, parecia também ser uma estudante, assim como ele....então Pedro entrou naquela capela do cemitério e ali permaneceu esperando a chuva parar...Achando estranho uma menina ali sozinha ele perguntou a ela: 
“ – O que faz aqui no cemitério sozinha?”.
Ela prontamente respondeu: “– Eu acho esse lugar tranqüilo, e gosto de vir ler meus livros aqui... justamente pelo silêncio desse lugar... já reparou que aqui só ouvimos o canto dos pássaros?”.
Pedro achou aquele ponto de vista estranho, mas tinha que concordar que ali era realmente um lugar calmo, bom pra se concentrar...
A chuva parou e ele prosseguiu rápido ver se encontrava o seu pai... e se esqueceu de perguntar o nome dela, o nome daquela garota...Depois de entregar o almoço ao pai , ele foi para o colégio, mas não tirava aquela garota da cabeça....Foi dormir naquela noite pensando nela...No dia seguinte Pedro seguia com sua rotina, foi ao cemitério e fez o caminho que passava em frente aquela capela...dessa vez a capela estava fechada...
Ele já estava indo embora, frustrado, triste só de imaginar que não iria mais ver aquela menina... foi quando ouvi um:
“– Psiu... psiu”...
Ele olhou para trás e lá estava ela com seus livros nas mãos, dessa vez sentada em cima de uma sepultura... Pedro ficou feliz e foi ao seu encontro....meio tímido, sem jeito e disse:
“- Ontem me esqueci de perguntar o seu nome... o meu é Pedro e o seu?”...
Ela disse: “- Me chamo Carolina... e amanhã nesse mesmo horário você me encontra nesse mesmo lugar Pedro, estarei aqui fazendo as minhas leituras”.
Aquele dia Pedro saiu feliz da vida daquele cemitério...
Sentia até o seu coração bater mais forte, porque aquela garota tinha algo de especial, era muito bonita, pele morena, cabelos negros, bem longos e lisos, olhos esverdeados... era a menina mais linda que ele já havia visto em toda sua vida...E então passou a encontrá-la todos os dias naquele mesmo lugar, ela sentada naquela mesma sepultura, com vários livros nas mãos...e os dois sempre conversavam bastante....teve até um dia que Pedro estava procurando pelo seu pai, e foi Carolina quem lhe falou:
“–Pedro, seu pai está lá nos fundos do cemitério, acabou de entrar um enterro agora ao meio dia... e ele está lá”.
Entusiasmado e encantado com sua nova amiga, Pedro decidiu falar sobre a Carolina ao seu pai:
“– Nossa pai, hoje ia ser difícil encontrar o senhor, a sorte é que a Carolina sabia onde o senhor estava”.
Seu pai lhe olhou surpreso e falou:
“- Filho, quem é essa Carolina? De quem está falando?”.
E Pedro contou: “È aquela garota que todos os dias vêm ler aqui no cemitério... ela sempre está sentada numa sepultura que fica perto da capela ”.
O pai ficou intrigado com aquela história de uma menina que ia ler no cemitério... Fez mais perguntas sobre ela ao filho, como ele a conheceu, onde ela costumava ficar, que jeito era ela...E quanto mais detalhes Pedro dava sobre Carolina, mais seu pai ficava assustado e preocupado, o filho percebendo a reação do pai queria saber o motivo de tanto espanto, mas o pai de Pedro se calou e disse ao filho que não era nada demais, só achava estranho uma garota ir todos os dias ao cemitério pra ler.
A partir do dia seguinte era a mãe de Pedro quem ia levar o almoço para o esposo... E quando Pedro perguntava o motivo de não ser mais ele a levar,
a mãe se esquivava e mudava de assunto... Uma noite Pedro então escutou uma conversa entre seus pais, onde sua mãe perguntava:
“- Mas Chico, como pode ter acontecido isso com o nosso filho?”.
E o pai respondeu:
“– Não sei mulher, não tem explicação... mas o que não podemos é deixar o Pedro ir mais naquele cemitério, porque se ele descobrir a verdade vai ficar traumatizado, mais medroso do que já é”.
No dia seguinte, sem falar nada pra ninguém, e querendo entender do que os pais estavam conversando na noite anterior, Pedro foi ao cemitério escondido... foi procurar por Carolina, naquela mesma sepultura onde ele sempre a via sentada...e naquele dia ele pôde entender o motivo dos seus pais não mais quererem que ele fosse até o cemitério.
Quando chegou naquela sepultura, Carolina não estava lá como de costume, mas naquela lapide tinha o seu nome escrito... com a data de nascimento e data de falecimento...
Pelas datas ele calculou que ela tinha 15 anos quando morreu, e já tinha 08 anos que ela havia falecido... Pedro ficou em choque, paralisado, não conseguia acreditar...era ela na foto da sepultura.
A foto era nítida... Como podia ele ter visto, ter conversado com uma menina se ela já era morta?.
Ele retornou pra casa chorando, era um misto de medo e decepção, porque Carolina tinha se tornado uma amiga, uma pessoa especial na vida daquele garoto... Chegando em casa correu ao encontro do pai já contando que tinha descoberto tudo, que já sabia que Carolina era morta...
Seu pai entristecido e um tanto preocupado com essa situação inusitada contou ao filho que se lembrava com clareza do dia do sepultamento da jovem garota:
“- É meu filho, pela primeira vez na vida seu velho pai não vai ter como responder as suas perguntas, porque eu mesmo nesses anos todos trabalhando como coveiro, já ouvi muita história, mas só ouvia, achava que era conversa fiada de meus companheiros de trabalho, eu me lembro muito bem do dia do sepultamento da jovem Carolina, fui eu quem a enterrou.”
E durante horas de conversa com o pai, Pedro ficou sabendo que Carolina havia morrido após cair de um cavalo...
Nunca mais Pedro conseguiu entrar naquele cemitério, assim como nunca conseguiu compreender como foi possível ele ter visto, ter conversado, com alguém que já não fazia parte desse mundo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
©2007 '' Por Elke di Barros